sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Um ano!

É verdade. Já lá vai quase um ano desde que escrevi aqui pela última vez. Quem me conhece sabe que o 2º ano foi complicado, com muitos trabalhos e avaliações constantes, que pouco tempo me deixavam para vir à internet. Ler e-mails, enviar alguns e pouco mais deu para fazer. O meu acesso à net na escola é condicionado pela disponibilidade dos computadores ou pelo tempo que tenho livre. Em casa, depois de me mudar, deixei de ter internet.
Vontade de escrever tive muitas vezes. Ideias não me faltaram. Mas a falta de tempo e também a preguiça foram mais fortes...
O mais irónico é que este foi ano da minha vida mais preenchido de experiências fortes, de muita aprendizagem e descoberta pessoal. Foi um ano de intenso crescimento interior.
Foram experiências sobre as quais quis imediatamente partilhar as minhas impressões, mas, por serem recentes, resolvi esperar para deixar assentar as ideias que pairavam na mente, desordenadas.
Parece incrível, mas há coisas que ainda andam no ar! :) No entanto, acho que já estou numa fase mais estável para vos falar deste ano.
É o que farei nos próximos posts. Sobre alguns assuntos serei breve, até porque há coisas que não se podem exprimir, apenas experimentar. Sobre outros, vou alongar-me mais.
Sei que haverá pouca gente a ler este blog. Os poucos que cá vinham provavelmente terão desistido com esta longa ausência. Não faz mal. O que aqui está não é urgente. São apenas pedaços da minha vida, do que sou, que quero partilhar. Se quiserem comentar estejam à vontade, seja pelo link dos comentários, seja por e-mail, de um modo mais pessoal.
Obrigada pelo interesse neste pobre blog. vou tentar melhorá-lo.
Até breve.

domingo, 28 de novembro de 2004

Outono

Depois destes 14 anos a viver em Viseu, penso que aquilo que mais saudades me deixará é o Outono da Beira.
As viagens de autocarro são uma boa ocasião para me deleitar com a paisagem desta estação.
O verde sempre presente dos pinheiros é invadido pelos vermelhos dos áceres, os castanhos dos carvalhos, os amarelos dos castanheiros, e toda uma gama de variações de cores que correspondem a outras tantas espécies.
Este ano tivémos a sorte de ter um Outono seco, dourado, em que o frio contribui para o encanto da paisagem, ao levar ao acender ds lareiras. O fumo que suavemente se evola das chaminés torna o ambiente ainda mais irreal, quase de conto de fadas.
As cores douradas e pastel das folhas nos ramos, que ternamente se soltam e cobrem o chão, gentilmente levadas no vento, são realçadas pela luz suave do sol Outonal, que não aquece já, mas nos envolve em brilho.
Adoro passar numa rua, num caminho coberto de folhas coloridas, sentir o restolhar do vento, os estalidos debaixo dos pés...
O Outono é encantador. Mais romântico que a Primavera, mais suave que o Verão, menos triste que o Inverno. Melancólico sim, mas encantador. Como se a Natureza se preparasse para dormir, calmamente, sorrindo, sabendo que nos ramos das árvores agora a secar se esconde a promessa de renovação.
Adoro o Outono.

quarta-feira, 22 de setembro de 2004

O verdadeiro Espírito Olímpico

À semelhança do que fiz com os Jogos Olímpicos, tenho seguido com alguma atenção as transmissões em directo dos Paralímpicos.
Para além de estar a aprender bastante sobre as modalidades paralímpicas, e me espantar todos os dias com o que os atletas deficientes podem alcançar, houve algo que me agradou imenso testemunhar.
Nota-se uma grande cumplicidade e solidariedade entre os atletas, não só compatriotas como também de países diferentes. Cumprimentam-se no fim das provas, seja com um aperto de mão, um par de beijos ou um abraço efusivo. Há um maior convívio dentro do estádio (que é o que podemos ver) do que entre os atletas que vi participar nos Jogos Olímpicos, que mostravam maior individualismo.
É bonito ver que estes atletas participam pelo amor ao desporto e pela vontade de dar o seu melhor, sem um espírito competitivo exagerado.
Um exemplo das maravilhas de todos os dias.

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

A história do Santalideus

Quando era pequena, o meu pai contava-me uma história que já o seu pai lhe contava:

"Em tempos que já lá vão, seguiam numa estrada dois cavaleiros. Ao chegarem à margem de um rio, encontraram um rapaz sentado junto a uma fogueira sobre a qual havia uma panela, cuja tampa o rapaz abria de vez em quando.
Os homens cumprimentaram o rapaz e um deles perguntou:
- Que estás a fazer, rapaz?
- Saiba Vossa Senhoria que como os que vêm e espero os que hão-de vir.
Os cavaleiros olharam um para o outro, confusos com aquela resposta.
- Que queres dizer com isso de comeres os que vêm e esperares os que hão-de vir?
Então o rapaz levantou a tampa da panela e mostrou o que lá havia dentro. Estava a cozer feijões, e à medida que a água fervia, apanhava os que subiam, comendo-os, esperando pelos que "haviam de vir".
"Rapaz esperto", pensaram os cavaleiros.
- Olha lá, sabes dizer-nos se podemos passar este rio a vau com os nossos cavalos?
- Saiba Vossa Senhoria que o gado do meu pai atravessa sempre a direito.
"Se o gado do pai dele atravessa a direito, então nós não devemos ter problemas..."
Lá se aventuraram no rio e... foram ao banho. Depois de muito lutar para tirar os cavalos da água, totalmente encharcados e exaustos, chegaram por fim ao pé do rapaz e perguntaram-lhe:
- Mas que raio de gado é o do teu pai?!
E o rapaz, imperturbável:
- Saiba Vossa Senhoria que o gado do meu pai são patos.
Foi aí que o cavaleiro teve uma ideia: "Espera aí que já vais ver como é..."
- Já que és tão esperto, não queres vir trabalhar para mim?
O rapaz concordou e foi com eles.
Depois de andar um tempo, aproximaram-se de um palácio, e o cavaleiro virou-se para o rapaz e disse-lhe:
- Se vais trabalhar para mim, ficas desde já avisado. Hoje vou ensinar-te umas coisas, e amanhã vou perguntar-te o que te disse hoje. Se não me souberes responder, serás castigado.
O rapaz concordou.
- Então começamos já. Este palácio que estás a ver, é a minha casa, o meu castelo. Nele mando eu, sou o Santalideus. Aquela senhora que está à porta à nossa espera, é a minha mulher, a Santalidade.
Entretanto chegaram e entraram. Logo veio um gato encostar-se às pernas do dono:
- Este é um papa-ratos.
Entraram numa sala e Santalideus apontou para o lume que ardia na lareira e disse:
- Aquilo que ali arde é a escarlência. E isto - apontou para um copo de água - é abundância.
Entrando no quarto, indicou a cama:
- Isto é uma estância e lá em cima - apontando para as vigas - estão as traquitanas.
Descalçou-se e mostrando os sapatos:
- Isto são ganha-fatos e estas são as tiras-viras - tirando as meias - Agora vai dormir e se amanhã não te lembrares de tudo o que te disse, vais-te ver comigo!
E a casa ficou em sossego.
De madrugada, com tudo ainda a dormir profundamente, o rapaz pegou no gato, atou-lhe um pedaço de estopa no rabo e pegou-lhe fogo, atirando o animal para o quarto do patrão e fechando a porta.
Disse então em voz alta:
- Alevanta-te Santalideus e mais a tua Santalidade. Calça as tuas tiras-viras e mais os teus ganha-fatos, q'aqui vai o papa-ratos c'a escarlência ao rabo. Se na lh'acodes c'abundância, leva-te o diabo a estância e as traquitanas, tudo por aí abaixo!"

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Olho cósmico

Mais uma imagem do Hubble, a que saiu este mês na página do Hubble Heritage Project: a nebulosa do olho do gato.
A primeira nebulosa planetária a ser descoberta, esta enorme concha de gás e poeira encontra-se a cerca de 3000 anos-luz. É o que resulta da morte de uma estrela semelhante ao Sol, que ejecta suavemente o gás das suas camadas mais exteriores, formando esferas de material. Esta em especial foi lançando porções de tempos a tempos, numa espécie de pulsação, no que resultou este aspecto em camadas.
Uma imagem hipnotizante. Com diz na descrição da imagem: ...the so-called Cat's Eye Nebula looks like the penetrating eye of the disembodied sorcerer Sauron from the film adaptation of "The Lord of the Rings."

O homem era uma autêntica loja dos chineses...

Há alguns anos, saiu nas Selecções do Readers Digest este texto em rodapé:

"Pau para toda a obra
Num número de 1960 da Revista da polícia Portuguesa, fui encontrar a cópia fiel de um prospecto histórico mandado imprimir e distribuir por volta de 1910 pelo regedor da freguesia da Sertã, Manuel Ferreira:
Manuel Ferreira, surgião, rigedor, comerciante e agente de enterros.
Respeitosamente informa as senhoras e cavalheiros que tira dentes sem esperar um minuto, apelica cataplasmas e salapismos a baixo preço, e vixas a 20 réis cada, garantidas. Vende plumas, cordas, corta calos, janetes, aços partidos, tosquia burros uma vez por mez, e trata das unhas ao ano. Amolla facas e tizoiras, apitos a 10 réis, castiçais, fregideiras e outros instrumentos musicais a preços reduzidos. Ensina gramática e discursos de maneiras finas, acim como cathecysmo e oretographia, canto e danças, jogos de suciedade e bordados. Perfumes de todas as qualidades. Como os tempos vão maus, pesso licença para dizer que comecei também a vender galinhas, lans, porcos e outra criassão. Camisolas, lenços, ratueiras, enchadas, pás, pregos, tejolos, carnes, chourissos e outras ferramentas de jardim e lavoira, cigarros, pitrol, augardente e outros materiais inflamáveis. Hortaliças, frutas, músicas, lavatórios, pedras de amolar, sementes e loiças e manteiga de vaca de porco.
Tenho um grande çurtimento de tapetes, cerveja, velas e phosphoros, e outras conservas como tintas, sabão, vinagre, compro e vendo trapos e ferros velhos, chumbo e latão. Ovos frescos meus, paçaros de canto como moxos, jumentos, piruns, grilos e deposito de vinhos da minha lavra. Tualhas, cobertores e todas as qualidades de roupas. Ensino jiografia, aritmética, jimnástica e outras chinezisses.
- Artur Varatojo, in Telejogos, Portugal"